terça-feira, 2 de novembro de 2010

Desventura sob negligência

          Falta-me, por hora, o discernimento das coisas. As traduzo por ideias próprias, intenções alheias e propósitos de ambos. Irmã das coisas fugidias é minha atual convicção de parentesco. 
     Andei de mãos dadas com a prudência, e quando a soltei de vez e abracei a certeza de ser permissiva,  me reconheci transeunte de estradas bloqueadas. 
     Lia-se na placa: "Proibida a passagem dos exaustos. Deixaste ao longo do caminho tua essência, a serenidade do íntimo e os passos sedentos. Perdeste neste novo itinerário. Andes, vás! Dês um passo atrás, para que possas talvez dar dois, três, ou até quatro à frente."
     E fui empurrada. Troquei os passos. Cambaleei no caminho de volta. Realizei que àquela imposição não caberiam parcerias. Aceitei. Não de bom agrado. Com péssimo agrado.E ,à contra-gosto, regressei naquela estrada.Com os pés descalços, as feridas se abriram. Não vou mentir, ainda doem. Mas doem sem a perspectiva da ira, tenha essa certeza.
     Reincorporei um pouco do que sempre coube a mim. Sublimei os maus presságios. Busquei paliativos.
     E se, à priori, demonstrei revolta, não pense que seja por  você ter mudado de ideia com tal rapidez, perdido a vontade ou enjoado mesmo. Metamorfose é característica inerente ao ser humano. É fato e não o contesto, admiro até. Mas tem que fazer-se metamorfosear sem ser leviano. Cativas e o é responsável por isto. Deve-se procurar sinestesia no discurso: ter tato ao verbalizar. Embora eu saiba que não o fez por má fé.
     E eu, que mal entendo de sinestesia, só quis oferecer o melhor. Dentro das minhas condições, já desgastadas, mas o tentei. E decepcionei comigo mesma, quando descobri o infortúnio da tentativa.
     Desejei a felicidade conjunta. Se foi preciso reparti-la, não quererei ficar sozinha com este bem. A compartilho e, com a  permissão, instigarei sua mitose para ambos. Se no proveito tropeçar, Duas Mãos é meu nome.
     

5 comentários:

  1. Lindo, lindo texto. Tanta alma e sinceridade.

    Mas ai, Wanessinha, será que entendi certo? Fiquei preocupada...

    Espero que esteja bem, linda!

    Beijo e, repetitivamente, PARABÉNS!
    :*

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  2. "Mas tem que fazer-se metamorfosear sem ser leviano. Cativas e o é responsável por isto. Deve-se procurar sinestesia no discurso: ter tato ao verbalizar. Embora eu saiba que não o fez por má fé." Tá tudo aí, né amiga? Tudo o que as mesas de bar ouviram, o telefone concordou e o coração não pode calar!

    Seu texto tá lindo, sua nerdona. Vai escrever difícil assim na ... heiuheiuh brincadeira, ficou na onda certa.

    beijo!

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  3. Essa felicidade conjunta é uma espécie de sonífero lento, vai tomando conta dos sentidos devagar... e aos poucos se instala.

    Tuas palavras exercem a força de um vento rígido e se desfazem nas beiradas da alma.

    Perfeito, adorei teu canto, beijo flor

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  4. Wanessa, olá!
    Texto delicioso, um achado de grande qualidade. Nem por isso que certamente signifique a dor comum e a desilusão trivial. Com belas ou com meras palavras, há que se abrir alguma torneira que deságue nossos desencantos. Dado o passo atrás, vamos em frente. Sentir o amanhã nos tomando pela mão e o ontem dando adeus e dizendo que aprendemos a lição não deixa de ser alguma sinestesia. Amei cada linha, cada palavra.
    Abraço carinhoso
    Lello Bandeira

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  5. E eu de ler os teus, Wanessinha!
    Aliás, que saudade de um texto novo, você escreve muito bem, sabia?

    Espero que o próximo provenha de algo muito muito muito bom :D

    Beijão flor :*

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