Consulto a caixinha do correio, ela persiste convicta em manter-se vazia. Não poucas vezes, inunda-me a impressão de que a vida é uma festa para a qual não me enviou o convite.
Que audácia, a dela!
Só que, por existir uma reserva de quarto para a meninice na alma, pulo o muro dos fundos e lá estou de penetra no evento. Faço-me auto convidada. O ambiente parece envolto pela inércia do excelente estado. A artilharia da oposição se mascara. E o desenrolar dos fatos acontece, como é de se supor.
Exponho-me em sinceridade. A infante grita do seu leito. Por ouvi-la em bom timbre, também ponho crédito na genuinidade de outrem. Resultado: a paradoxal sensação de contentamento e aflição no trigésimo dia. Anseio por recidiva, clareza de que há ressalvas.
Com os joelhos ainda ralados e as mãos sujas com a poeira do chão, não me reconheço uma atacante inata. A injúria não é meu objetivo. O único argumento que utilizo é a armadura desajustada. Aliás, careço também da conduta auto-explicativa. E deixo espalhado em outdoors o apreço por ele, só não vê quem não quer.
Sussurro para aquela que grita dentro de mim: “abranda-te lá no âmago, menina, com o estado de sítio que vigora!”
Refugio das artilharias estrangeiras, ajusto minha armadura de proteção e me alojo em trincheiras emocionais. Explorem todo o campo da superfície - o da superficialidade -, soldados, exceto o meu terreno escavado. Reconheço-me, por enquanto, abstêmia radical e não lhes dou a alternativa para mais estragos.
"Reconheço-me, por enquanto, abstêmia radical e não lhes dou a alternativa para mais estragos."
ResponderExcluirAbster-se "radicalmente" pode até impedir que te façam estragos, é verdade... mas acaba que quem os faz é você mesma, não?!
Adorei a "ironia pesada" sobre a vida... afinal, a vida pode ser (bastante) irônica e pesada...
"Que audácia, a dela!"
...
E acho que pra lutar contra esse peso, precisamos é ser mais audaciosas que ela... sermos, nós, a fonte de ironia... roubar dela a ironia E O PESO... Senti isso no texto: uma ironia pesada que tende à leveza... pesado, sim, mas mostrando a leveza das coisas...
Que audácia, a sua!
uau
ResponderExcluiruau
uau
pirei
ficou mais q perfeito!
*-*
E inúmeras vezes vem a impressão de que o mundo continuou girando, as pessoas continuaram vivendo, relacionamentos se formaram, acabaram, e só a gente se estagnou nesse lugar do qual parece tão difícil sair.
ResponderExcluirIncrível como desde a primeira vez em que nós conversamos os pontos comuns não param de aparecer.
E respondendo ao seu recado: Você SÓ se expressou. Não poderia ter ficado melhor! Esclarecedor pra quem conhece. Belíssimo também pra quem leu de outras formas.
Beijo, linda.
Wanessa, bom dia!
ResponderExcluirMenina paradoxal... Invadindo uma festa a que não foi convidada, mas festa, essa mesma, para a qual não se exige convite e se admite a invasão... Texto interessante, intrincado, propositadamente dificultado. Uma vez, optei pelo estilo, fortemente influenciado pelos simbolistas; pouco depois, mudei. Você tem dons de cronista, contista, romancista. Acho linda a forma como eles fluem em você.
Um beijo carinhoso
Lello
Demorei a comentar, né amiga? Mas não que já não tivesse lido algumas boas vezes o texto!
ResponderExcluirAntes: gostei do novo visual do blog e percebo que está se entendendo bem melhor com ele - isso é ótimo!
Instante-já: Em tudo há ressalvas, em tudo há dois lados. Suas palavras estão CHEIAS de vida e sentimento. Quem assim não entende, perde o brilho da sua originalidade e desperdiça a verdade que há aqui. Outro dia eu lia 'Chatisse' e me lembrei de vc: ela falava de entrelinhas.. ;)
E por fim...
Quero evitar mas não consigo: "a vida é uma festa para a qual não me enviou o convite" ? Pois digo eu: WANESSINHA CHEGOU: JÁ PODE COMEÇAR A FESTA!
É privilegiado quem entende. Nós somos!
beijo!
Em junho de 2010 eu perdi minha mãe, razão pela qual criei um blog e me entreguei de coração a escrever, escrever sem parar, comentar blogs, escrever poesias, contos, crônicas, frases, biografias, anedotas... O tempo assentou um pouco a dor do meu coração. As amizades, muito mais que o tempo, foram um diferencial maravilhoso. Dentre elas, a sua, importante, especial, esperada mesmo. Foi muito bom ter participado de alguma forma de seu blog, e foi melhor ainda ter esperado sua participação no meu.
ResponderExcluirAgora eu quero lhe desejar um Feliz Natal, e pedir a Deus que você reconheça em seu Filho a razão real da existência dessa festa. E quero lhe desejar um ano de 2011 maravilhoso, rico primeiramente em experiência, conhecimento, amor e saúde. Que nada a abale tanto que a leve a esquecer que o dom maior é a vida, e o bem maior da vida é o conhecimento de Deus; e que o segundo bem é o amor ao próximo como a si mesma.
Tenha doces sonhos. Sonhe muito. E brilhe tanto quanto percebemos, seus leitores, que seu talento pode brilhar.
Um beijo carinhoso e meu mais profundo obrigado, do fundo do meu coração.
Lello Bandeira