domingo, 25 de agosto de 2013

E ficamos tão enclausurados na sala de trabalho, na sala de estar, olhando pros quadrados do teclado, pro cristal líquido da TV, sentindo o peso nos ombros e o cheiro do travesseiro. Se dedica e compensa um enclausuramento com outro. Nem sempre pela vontade, mas pela necessidade. Sinestesia desarmônica. Teias que precisam do desemaranhamento pra que o olfato distingua os cheiros da dama da noite, do mato que balança, do vento gélido da madrugada. O nariz arde gostosamente, o pulmão se enche de maciez. Os olhos se fecham com tamanha paz... e os ouvidos distinguem as particularidades de cada instrumento: os pneus no asfalto, os passos secos do concreto, macios da grama, a determinação dos gravetos quebrando, folhas amassando. O velho vento gélido tirando o peso da nuca. E o pulmão inspira o ar suave, embebido em melodia. Queria abandonar o gerúndio do "ir vivendo" e apenas sentir. Daí a alma incandesceria. Pra que mais?

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